quarta-feira, 9 de março de 2016

Morte morre?



Foi numa noite nublada, mas sem chuva, que o telefone tocou interrompendo meu jantar e me obrigando a deixar de lado o sofá, o prato de miojo (onde já não sobrava muito macarrão, deixando o pote preenchido quase que inteiramente pelo caldo meio transparente, meio cor de não sei o quê) e a companhia de minha graciosa solidão.
                -Cala a boca e me escuta! Eu to com a sua morte e se você não pagar o resgate até as
                -Minha morte, como assim?
                -Cala a boca porra! - Berrou a voz do ouro lado da linha, ainda enquanto eu tentava esclarecer minha dúvida. E continuou- Presta atenção, caralho! Quinhentos reais até a meia noite. Deixa no lado esquerdo do vigésimo degrau da escadaria da rua dos ingleses, aquela que desce pra 13 de maio. É isso ou sua morte morre essa noite mesmo. – E desligou.
                Voltei para a TV.
                A real é que por mais ridículo que pareça, a conversa causou em mim uma certa curiosidade, um certo jogo de associações de idéias a respeito da morte, afinal, o que seria essa palavra além de simples letras organizadas de maneira mais ou menos aleatória? O que será que aconteceria se ela morresse? (Isso se ela fosse sequer real).
                O desespero caiu em mim caiu em mim como uma armadilha de caça. Pensei que a voz do desconhecido podia estar falando sério e sobre o que aconteceria se fosse verdade. Senti uma ponta de pena quando imaginei a dor no semblante ossudo da prima do Caveira. É isso, eu iria à escadaria, não podia deixar aquilo acontecer, mesmo sem ter a menor idéia do que aconteceria se isso acontecesse.
                No momento da tomada da decisão, faltavam apena 15 minutos para o horário combinado. Morava perto e perto e pelos meus cálculos, seu eu fizesse cada quarteirão em três minutos, chegaria a tempo. Porém, demorei 30 segundos a mais que o planejado entre a Brigadeiro e a Rua Fortaleza, de tal forma que há poucos metros do pé da escada, caí no chão e adormeci.
                Morri, eu acho... Quer dizer, no fundo acho que não faz muita diferença... Bom, devo dizer que minha falta de interesse para com a informação não é de toda real, já que fiquei, admito, ligeiramente triste quando lembrei que nunca poderia experimentar o novo miojo de abóbora com salsa e cebola... Mas a exceção disso, acho que tudo bem.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Crônica sobre a crônica que eu havia escrito que dizia de uma crônica que tentava explicar o que é uma crônica, mas perdi quando o computador desligou sozinho.



O que aconteceu foi mais ou menos o seguinte: eu havia começado a escrever minha crônica no sábado, abusando dos recursos visuais do Word e tentando criar uma linguagem um tanto quanto informal, que permitia uma maior proximidade com o leitor, ao mesmo tempo em que criticava este truque, pois, no frigir dos ovos, serve só para iludir o pobre coitado, que além de tudo, teria de gastar sua visão com a leitura daquele pedaço de papel que seria bem melhor aproveitado enquanto árvore, ou papel higiênico, daqueles tipo dupla-folha, com cheirinho de rosas e tudo o mais. Porém, hoje (18/11/2015) a tarde, o computador deu algum tipo de bug e desligou automaticamente. O texto que não estava salvo, foi perdido e nem aquele recurso do Word que recupera textos perdidos em desligamentos forçados, conseguiu recuperar o tal do texto perdido.
                A crônica era sobre uma crônica que buscava uma explicação para o sentido da palavra “crônica”, tendo em vista que esta se apropriava de uma linguagem bastante poética e até um tanto quanto romancista, para encontrar o sentido do gênero literário, o que me deixou bastante confuso, já que, ao meu ver,  a crônica deve explorar o mais banal e cotidiano sem se deixar levar pelo expressionismo romântico, de forma a apresentar uma reflexão sobre a rotina de todo o dia, fazendo com paremos para observar o mundo a nossa volta e perceber coisas inúteis, mas que tem um significado especial, o que me lembra uma boa música que ouvi outro dia ( https://www.youtube.com/watch?v=v7LBggDKEtM ), sobre a solidão humana e as relações que no fundo, apesar de tudo, fazem com que as coisas pareçam um pouco mais reais, já que permitem o desenvolvimento da consciência de um mundo para além do próprio ego.
                Era a partir deste ponto, quando eu mesmo caia num expressionismo romântico, dizendo que são as relações do dia a dia que criam uma beleza na vida, que eu começava a explicar que na verdade, eu não tenha nada contra a crônica que tentava explicar o significado da palavra “crônica” e na realidade, a minha impressão com relação ao sensacionalismo poético, foi uma coisa que passou muito rápido, mas ainda assim, achei que seria interessante escrever sobre isso e aproveitei esse campo de sinceridade que havia criado no texto, para questioná-lo, dizendo como na realidade, qualquer tipo de intimidade entre o leitor e o autor, não passa de uma pura ilusão.
                Mas agora, saindo do pretérito (odeio ficar escrevendo no pretérito), continuo a reflexão aqui, nesse novo texto, que não é exatamente novo, já que é quase como o antigo... Bom, na real que não tem mais muito que dizer, afinal, sintetizei em um parágrafo todo o texto que perdi por conta do bug, o que simplesmente demonstra a minha habilidade de enrolar idéias e de falar muito sem dizer nada.
                Mas acho que o mais importante e o ponto onde quero chegar é o seguinte: salve o seu texto, sempre salve, a cada palavra salve, a cada letra salve e a cada bug... É, o bug realmente fode tudo, mas tudo bem é parte.