quinta-feira, 13 de junho de 2013

Girajá
                Na verdade seu nome é Irajá, mas como quando eu o conheci tinha uns quatro anos, eu o chamei de Girajá.
             
                O Girajá foi meu professor de música na pré- escola. Tenho que admitir que eu e meus colegas tínhamos medo dele, pois ele exigia muito de nós, mas hoje eu sei que ele fazia isso, pois não acreditava naquele papo idiota: “Eles são só crianças”. Ele acreditava em nós. Sabia que podíamos dar muito mais do que quanto a maioria acreditava. Só para entenderem o que eu estou falando, saibam que na aula dele, ao invés de cantarmos músicas infantis, cantávamos Beatles, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e por aí vai.
                 Ele usava óculos, era barbudo e cabeludo, mas hoje em dia, quando tem encontro de ex-alunos na escola, e ele vai, fico decepcionado ao vê-lo de barba feita e cabelo cortado.
                O Irajá tocava as músicas no violão e nós acompanhávamos cantando. No momento não tenho certeza, mas, que eu me lembre, ele não usava palheta. Tocava com os dedos.
                 Lembro-me que a primeira música dos Beatles que ouvi foi yellow submarine, e foi na aula dele. Eu confundia o nome da música com o nome da banda. Lembro também que o Girajá falou o nome de todos os integrantes do grupo, e o primeiro que decorei, foi o do Ringo, e desde então, comecei a me interessar por percursão.
                Lembro também, que além de yellow submarine, cantávamos outras músicas em línguas estrangeiras e como tínhamos apenas uns seis anos, não sabíamos falar inglês, espanhol, ou italiano, apenas murmurávamos no ritmo da música
                Na formatura dessa pré-escola quem me deu meu diploma foi ele. Talvez na época eu não tenha gostado muito, mas hoje tenho muito orgulho em falar: “ Quem me deu meu diploma da pré-escola, foi o Girajá, o cara que me ensinou boa parte do que sei hoje”
                É por isso que hoje eu digo:
                -Muito obrigado Girajá.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

O texto não é meu, é do meu pai, mas ele me mandou e eu achei fantástico
então aí vai



Trilha Sonora
Deliciosa sensação é  caminhar pela São Paulo e suas calçadas acidentadas com um fone de ouvido ligado ao IPod. Buracos no caminho, motoristas egoístas e a feiura da paisagem se transformam ao som de Chet Backer, de Deep Purple ou de Joaquim Rodrigo. É como quando, ao editar um filme, inserimos a trilha sonora. O enredo se transforma, ganha novos sentidos e amplidão poética.
O mesmo caminho repetido diariamente entre minha casa e o trabalho pode trazer inúmeras percepções, tantas quanto forem as músicas que me acompanham no trajeto. Ou então novos percursos, ao serem desbravados pela primeira vez, se enchem de acolhimento se vierem embalados por uma trilha familiar.
Lembro da euforia com a chegada do Walkman da Sony e dos similares paraguaios (já eram chineses, mas nós chamávamos de paraguaios) na década de 80. Antes de sair de casa tínhamos que verificar as pilhas, escolher uma fita bacana e torcer pra não enrolar no cabeçote. O negócio era um trambolho que ficava pendurado no cinto, mas a emoção de criar sua própria trilha sonora para o dia trazia uma alegria incomparável. Muitas tardes eram ocupadas nas gravações das fitas, combinando gêneros e humores díspares para preencher o tempo com sua rica diversidade.
Hoje o IPod tem uma novidade que acho fora-de-série. Quando a gente usa a opção shuffle ele escolhe aleatoriamente a ordem das músicas no nosso arquivo, proporcionando verdadeiros momentos de deleite como ao ser surpreendido pelos acordes iniciais de “Tarde em Itapoã” ao entrar no metrô às 18h00, ou no sentido inverso, apreciar o horizonte na Praça do Pôr do Sol ao som de “The Number of the Beast”.
 surpresas sempre me encantam. Me ajudam a enxergar o mundo com um olhar renovado, a fugir das soluções fáceis e do roteiro viciado. Trazem inquietude e geralmente trazem também boas ideias. Certamente agregam um pouco de humor ao dia, como quando, ao me dirigir pra uma audiência trabalhista no Fórum da Barra Funda, sob a chuva fina tão comum em São Paulo, o shuffle me presenteia com Adoniram Barbosa: “...mulher, patrão e cachaça, em qualquer canto se acha”.