quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

a poesia contra o poeta

O poema que me mata
que me interroga
que me bate
que me esforça

O poema que me pisa
que me droga
que me tira mais do que sobra

As letra que me atacam
pingos de tinta na camisa do artista
que o deixam sujo e maluco

O poema que me acaba
que me arrebenta
que coça e que sara
que empurra até a última gota
o tédio da cura

O poema que me inspira
a uma uma nova poesia
ao fim deste texto
desta grande mentira

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Banho e Cama
                O banho e a cama são, para mim, importantes templos de meditações e reflexões, que me trazem inspirações para poemas textos ou frases. São lugares onde o tempo deveria parar (mas infelizmente não para). São lugares de conexão inter-dimensional onde tudo pode chegar de toda ou qualquer parte do espaço e do tempo.
                O grande problema que desestrutura as inspirações trazidas pela conexão inter-dimensional, são as outras pessoas que também querem tomar banho, ou por razões inexplicáveis, querem te tirar da cama quando você já está acordado, mas continua deitado pensando e refletindo.

                A solução para o problema seria conscientizar os que atrapalham o progresso da filosofia por simples inveja da nossa habilidade de acolher as inspirações no banho e na cama. Fazê-los perceberem que, com muita prática, eles também podem fazer isso e colaborar no progresso da filosófica filosofia.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Girajá
                Na verdade seu nome é Irajá, mas como quando eu o conheci tinha uns quatro anos, eu o chamei de Girajá.
             
                O Girajá foi meu professor de música na pré- escola. Tenho que admitir que eu e meus colegas tínhamos medo dele, pois ele exigia muito de nós, mas hoje eu sei que ele fazia isso, pois não acreditava naquele papo idiota: “Eles são só crianças”. Ele acreditava em nós. Sabia que podíamos dar muito mais do que quanto a maioria acreditava. Só para entenderem o que eu estou falando, saibam que na aula dele, ao invés de cantarmos músicas infantis, cantávamos Beatles, Luiz Gonzaga, Roberto Carlos e por aí vai.
                 Ele usava óculos, era barbudo e cabeludo, mas hoje em dia, quando tem encontro de ex-alunos na escola, e ele vai, fico decepcionado ao vê-lo de barba feita e cabelo cortado.
                O Irajá tocava as músicas no violão e nós acompanhávamos cantando. No momento não tenho certeza, mas, que eu me lembre, ele não usava palheta. Tocava com os dedos.
                 Lembro-me que a primeira música dos Beatles que ouvi foi yellow submarine, e foi na aula dele. Eu confundia o nome da música com o nome da banda. Lembro também que o Girajá falou o nome de todos os integrantes do grupo, e o primeiro que decorei, foi o do Ringo, e desde então, comecei a me interessar por percursão.
                Lembro também, que além de yellow submarine, cantávamos outras músicas em línguas estrangeiras e como tínhamos apenas uns seis anos, não sabíamos falar inglês, espanhol, ou italiano, apenas murmurávamos no ritmo da música
                Na formatura dessa pré-escola quem me deu meu diploma foi ele. Talvez na época eu não tenha gostado muito, mas hoje tenho muito orgulho em falar: “ Quem me deu meu diploma da pré-escola, foi o Girajá, o cara que me ensinou boa parte do que sei hoje”
                É por isso que hoje eu digo:
                -Muito obrigado Girajá.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

O texto não é meu, é do meu pai, mas ele me mandou e eu achei fantástico
então aí vai



Trilha Sonora
Deliciosa sensação é  caminhar pela São Paulo e suas calçadas acidentadas com um fone de ouvido ligado ao IPod. Buracos no caminho, motoristas egoístas e a feiura da paisagem se transformam ao som de Chet Backer, de Deep Purple ou de Joaquim Rodrigo. É como quando, ao editar um filme, inserimos a trilha sonora. O enredo se transforma, ganha novos sentidos e amplidão poética.
O mesmo caminho repetido diariamente entre minha casa e o trabalho pode trazer inúmeras percepções, tantas quanto forem as músicas que me acompanham no trajeto. Ou então novos percursos, ao serem desbravados pela primeira vez, se enchem de acolhimento se vierem embalados por uma trilha familiar.
Lembro da euforia com a chegada do Walkman da Sony e dos similares paraguaios (já eram chineses, mas nós chamávamos de paraguaios) na década de 80. Antes de sair de casa tínhamos que verificar as pilhas, escolher uma fita bacana e torcer pra não enrolar no cabeçote. O negócio era um trambolho que ficava pendurado no cinto, mas a emoção de criar sua própria trilha sonora para o dia trazia uma alegria incomparável. Muitas tardes eram ocupadas nas gravações das fitas, combinando gêneros e humores díspares para preencher o tempo com sua rica diversidade.
Hoje o IPod tem uma novidade que acho fora-de-série. Quando a gente usa a opção shuffle ele escolhe aleatoriamente a ordem das músicas no nosso arquivo, proporcionando verdadeiros momentos de deleite como ao ser surpreendido pelos acordes iniciais de “Tarde em Itapoã” ao entrar no metrô às 18h00, ou no sentido inverso, apreciar o horizonte na Praça do Pôr do Sol ao som de “The Number of the Beast”.
 surpresas sempre me encantam. Me ajudam a enxergar o mundo com um olhar renovado, a fugir das soluções fáceis e do roteiro viciado. Trazem inquietude e geralmente trazem também boas ideias. Certamente agregam um pouco de humor ao dia, como quando, ao me dirigir pra uma audiência trabalhista no Fórum da Barra Funda, sob a chuva fina tão comum em São Paulo, o shuffle me presenteia com Adoniram Barbosa: “...mulher, patrão e cachaça, em qualquer canto se acha”.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

O vendedor de flores



                Seu nome era Augusto e ele chegava todo dia na Rua Albuquerque Lins em frente à estação de metrô Marechal Theodoro com o seu carrinho de flores.
                Ele era um homem Carismático. Dava-se muito bem com os clientes, como por exemplo, um casal de idosos no qual um comprava flores para o outro, mas sempre separados, - Augusto não sabia se mesmo que isso acontecia todos os dias, era uma surpresa ou apenas a rotina. Ou o homem que sempre estava embriagado e oferecia a flor para a primeira pessoa que encontrasse.
                Mas o X da questão é por que Augusto fazia aquilo. Por que ele vendia flores? Por falta de dinheiro? Por obrigação de seu amigo imaginário, Jonhson? Para sentir o cheiro das flores? NÃO, NÃO E NÃO. Ele fazia isso, pois gostava. Pois adorava poder contribuir com amores que transformam a cidade. Pois não tinha ninguém a quem amar. Não que ele fosse uma pessoa solitária. Ele tinha amigos, tinha família, mas não tinha uma paixão. Não tinha ninguém com quem sonhar. Ninguém para temperar sua vida. Para enchê-la de sentido. Ninguém para chorar.
                Ele não tinha ninguém para dar flores.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013



Pulou

E então ele tomou coragem e pulou.
                Era um garoto de uns sete anos que levava uma vida gostosa, não muito mimada, mas tinha boas condições de vida.
Ele tinha uns tios de segundo grau muito ricos que ele nunca tinha visto, mas, por algum motivo, eles o adoravam (sempre lhe mandavam presentes).
Um dia o garoto tinha acordado no meio da noite para ir ao banheiro, e quando estava voltando, escutou os pais conversando:
-Querida, acho que devíamos aceitar o convite que Haroldo e Marisa fizeram para irmos o sítio deles- Milor, o garoto, que ouvia a conversa escondido, arregalou os olhos. Haroldo e Marisa eram os tios de segundo grau ricos que o adoravam. Ele quase deu um berro de exclamação, mas se lembrou de que estava escondido- seria ótimo para nós. Passar um fim de semana em família!
-É... Acho que você tem razão.
Com a aprovação da mãe, o menino não aguentou e berrou de felicidade. Então os pais o chamaram e conversaram com ele falando coisas do tipo “Se comporte, nós estaremos num lugar que não é nosso”, “Lá você vai ter de obedecer às regras de lá” e essas coisas que os pais sempre falam antes das viagens.
Quando Milor voltou pra cama, não conseguia dormir, pois estava muito ansioso (a viagem seria dali a dois dias), então foi fazer uma mala bem simples com roupa para a piscina de 20 metros cúbicos que tinha no sítio, e ficou imaginando como o lugar seria.
No dia anterior à viagem, ele não conseguia se concentrar em nada, só ficava pensando em como seria o sítio, que coisas teriam lá, qual seria a cor, a comida, o cheiro e os sons.
                Quando foi dormir, sonhou que estava indo para o sítio numa limusine e que, quando chegava lá, tinha um tapete vermelho que ligava a porta do carro à da casa dos tios. Enquanto passava pelo tapete fotógrafos tiravam fotos dele.
                No dia seguinte, ao acordar, os pais já estavam com tudo pronto para a viagem. Desceram do apartamento à garagem, entraram no carro, e foram. Durante a viagem, o menino não parava de perguntar se já estavam chegando.
                Depois de três horas de viagem, Eles finalmente chegaram ao sítio aonde na entrada tinha uma placa na qual estava escrita “Sítio Shong”.
                Quando chegaram, os tios que tinham acabado de sentar a mesa para almoçar, levantaram e foram receber os convidados:
                - Deixem suas malas no quarto e depois venham almoçar
                Os tios sorriram para o garoto e depois o cumprimentaram do mesmo jeito que fizeram com os pais.
                Durante o almoço, a tia falou sobre uma tirolesa que eles tinham instalado há pouco tempo e que, se Milor quisesse ir lá depois, eles adorariam acompanhá-lo. Ele ficou muito animado com a ideia e começou a comer mais rápido para acabar logo e ir para o brinquedo gigante, mas então falaram que ele precisaria esperar pelo menos uma hora a partir do almoço para ir à tirolesa. Ele se desanimou um pouco, mas nada realmente significante.
                Acabado o almoço, ele foi jogar um jogo no seu Game Boy.
                Quando o tão esperado momento chegou, ele largou o Game Boy e foi correndo ao lado dos tios em direção à tirolesa.
                Mas ao ver a altura do brinquedo, ficou muito assustado. De repente, sua respiração acelerou, seus poucos pelos se eriçaram e uma expressão de medo tomou conta de seu rosto.
                Enquanto isso acontecia, os tios lhe punham o equipamento de segurança sem notar o susto do menino, mas, naquele momento, não havia mais volta. Ele teria de pular.
                E então, depois de escutar repetidamente às instruções. E então depois de olhar várias vezes para baixo conferindo a altura. E então depois de conferir muito bem o equipamento de segurança. E então ele tomou coragem e pulou.